Uma das primeiras, e talvez uma das mais importantes, discussões sobre psicopatologia diz respeito à questão da normalidade. Existem várias definições sobre o que é “normal”.
Estatisticamente, normal refere-se a uma propriedade de uma distribuição que aponta uma tendência, o que seria “mais comum” de encontrar em determinada amostra, o mais provável
(cf. distribuição normal). Assim, o normal é o que seria o mais provável de encontrarmos numa população, o comum, o esperado. Portanto, deste ponto de vista, os comportamentos que são
considerados típicos, ou seja, que são os “esperados” de se encontrar ou de acordo com os padrões sociais aceitáveis para o agir, podem ser considerados comportamentos “normais”.
(…) São vários os fatores que podem caracterizar um transtorno.
De forma geral, considera-se que a presença de uma
psicopatologia ocorra quando houver uma variação quantitativa
em determinados tipos específicos de afetos, comportamentos e
pensamentos, afetando um ou mais aspectos do estado mental
da pessoa. Neste sentido, a psicopatologia não é um estado
qualitativamente diferente da vida normal, mas sim a presença
de alterações quantitativas.
Saúde, normalidade e psicopatologia são termos altamente relacionados. A psicopatologia passa a ocorrer quando o comportamento de uma pessoa, ou eventualmente de um grupo de
pessoas, foge àquilo que é esperado como referência de determinada sociedade, quando a pessoa passa a ter alterações importantes em relação ao comportamento que tinha no
passado, com prejuízos significativos em seu funcionamento (comportamento), causando a si e a outros, especialmente seus familiares, acentuado grau de sofrimento. Tem-se como
expectativa que a normalidade seja o tipo de comportamento que mais ocorre em qualquer cultura.
A saúde mental, por sua vez, seria então uma condição ideal ou desejada para que essa normalidade possa vir a existir, com qualidade e capaz de oferecer as melhores condições para
que as pessoas vivam satisfatoriamente, produzam com eficiência e possam gozar de certo grau de felicidade para com as pessoas próximas a si. Segundo a OMS, a saúde mental refere-se a
um amplo espectro de atividades direta ou indiretamente relacionadas com o componente de bem-estar, que inclui a definição de um estado de completo bem-estar físico, mental e social,
e não somente a ausência de doença. Este conceito engloba não apenas o comportamento manifesto, mas o sentimento de bem-estar e a capacidade de ser produtivo e bem adaptado à
sociedade.
Por exemplo, considera-se que a tristeza seja normal e esperada na vida de qualquer pessoa, e é mesmo necessária em determinados momentos da vida (p. ex., em situação de luto).
Entretanto, num quadro depressivo estabelecido, a tristeza é mais intensa e mais duradoura do que seria esperado numa situação normal e transitória. Assim, uma situação normal e
esperada torna-se patológica não por ser uma experiência ou vivência qualitativamente diferente, mas por ser mais ou menos intensa do que se espera em situações normais. Neste
sentido o trabalho do psicanalista na compreensão dessa desordem vai na busca da construção de um processo analítico (entre paciente/cliente e analista) capaz de conduzir ao “tratamento”
dessa psicopatologia.