Neuroses Atuais

NEUROSES DE ANGÚSTIA

Conceituação

Freud estudou a angústia em dois momentos diferentes de sua obra. Na primeira formulação, a angústia seria consequente à repressão, o que provocaria uma libido acumulada que
funcionaria de uma maneira “tóxica” no organismo. A partir de sua monografia Inibições, sintomas e angústia (1926) ele conceituou de forma inversa, ou seja, é a repressão que se processa como uma forma de defesa contra a ameaça de irrupção da angústia, mais especificamente, a angústia de castração.
Portanto podemos dizer que a neurose de angústia consiste em um transtorno clínico que se manifesta por meio de uma angústia livre, quer sob uma forma permanente, quer pelo
surgimento em momentos de crise. Em outras palavras, a ansiedade do paciente expressa-se tanto por equivalentes somáticos (como uma opressão pré-cordial, taquicardia, dispneia
suspirosa, sensação de uma “bola no peito”, etc.), como por uma indefinida e angustiante sensação do medo de que possa vir a morrer, enlouquecer, ou da iminência de alguma tragédia.

Ex: Seria hoje o que popularmente chamamos conforme manual de psiquiatria (DSM) atualmente como transtorno de ansiedade generalizada (TAG).
Habitualmente, os psicanalistas empregam os termos “angústia” e “ansiedade” de forma indistinta, porém que cabe alguma distinção.

O termo ansiedade (talvez tenha alguma relação com “ânsia”, isto é, um desejo desmedido) designa alguma descompensação da harmonia psíquica interna, no entanto, nem sempre ela évisível ou perceptível porque, por meio de recursos defensivos que constituem os mais diversos tipos de negação da referida ansiedade, o sujeito pode estar impregnado por uma ansiedade
latente sem que ela seja manifesta.

Como exemplo disso, pode ser o caso de uma fobia específica a utilizar um elevador, sendo que essa pessoa nada sentirá enquanto puder administrar bem as suas técnicas evitativas dessa situação fobígena, porém um enfrentamento direto da situação ansiogênica pode fazer vir à tona, de forma ruidosa, aquela angústia que estava latente, aparentemente inexistente.

Por sua vez, a palavra angústia deriva do latim angor, que quer dizer “angustura, estreitamento, apertamento”, o que traduz fielmente os sintomas que emergem e ficam livremente manifestos nos sintomas opressivos acima assinalados. Na maioria das vezes, tais sintomas indicam que está havendo uma falha do mecanismo de repressão, diante de um – traumático – excesso de estímulos, externos e/ou internos.

Nos quadros clínicos em que prevalece uma recorrência de episódios de crises de angústia, é necessário que se levante a hipótese que se esteja tratando do transtorno conhecido como “doença do pânico”, o qual costuma responder muito bem à medicação específica. Conquanto para Freud, como vimos antes, o termo “neurose de angústia” designasse uma das formas de “neurose atual” – portanto, sem estar diretamente ligada a antigas repressões – posteriormente, aquela terminologia também costumava ser utilizada na literatura
psicanalítica para designar uma modalidade de neurose que guarda raízes históricas com fixações das repressões dos desejos proibidos que, por isso, quando surge uma ameaça do
retorno do reprimido à consciência, a neurose de angústia manifesta-se pela via somática, através de sintomas de angústia livre.

Assim, é útil estabelecer uma certa diferença entre a neurose de angústia e a neurose atual. Enquanto a primeira alude mais diretamente à manifestação sintomática de uma angústia livre, resultante da ameaça de que os primitivos desejos proibidos, que estão reprimidos no inconsciente, retornem à consciência, a “neurose atual” refere mais diretamente que o sujeito não está conseguindo processar um excesso de estímulos que, na realidade e na atualidade, estão acossando ao seu ego.

Caso o ego não consiga processar adequadamente esse estressante excesso de estímulos (Freud, em suas primeiras formulações acerca da neurose atual, exemplificava com a
masturbação mal dirigida, ou com os edípicos incrementados por uma hiperestimulação ambiental), os mesmos escoarão por outras vias, como são as diversas possibilidades da
fisiologia orgânica.

ATENÇÃO: O termo “neurose de angústia” caiu em certo desuso visto que ela ora se confunde com a síndrome do pânico, ora com a neurose atual, ora com a angústia dos fóbicos diante de situações especificamente ansiogênicas. Aliás, nos primeiros tempos, Freud designava as fobias

FOBIAS
Uma complexa e diversificada combinação de pulsões, fantasias, angústias, defesas do ego e
identificações patógenas pode determinar na personalidade do sujeito uma estruturação de
natureza fóbica. Pelo fato de que essa estrutura fóbica axial costuma ser multideterminada e
variar intensamente de um indivíduo para outro, tanto em intensidade como em qualidade, ela
configura-se clinicamente com uma ampla gama de possibilidades, desde as mais simples e
facilmente contornáveis até as mais complicadas, a ponto de serem incapacitantes e
paralisantes.
Assim, desde uma situação em que estão presentes alguns traços fóbicos na personalidade (sob
a forma de inibições, por exemplo), passando pela possibilidade de uma caracterológica fóbica,
caracterizada por uma modalidade evitava de conduta, aliada a um típico estilo de
comunicação e de lógica, pode-se atingir uma configuração clínica de uma típica neurose
fóbica, sendo que em certos casos é tal o grau de comprometimento do sujeito, que não é
exagero designar como psicose fóbica.
Uma razão importante para que seja estabelecido um diagnóstico diferencial entre esses dois
quadros clínicos é que a doença do pânico costuma dar uma resposta positiva (às vezes
dramática) ao uso da moderna farmacoterapia da família dos antidepressivos, sendo relevante
acentuar que, ao contrário do que muitos pensavam (e alguns ainda persistem), esse eventual
uso da medicação em nada de negativo interfere no tratamento psicanalítico.
15
É útil lembrar que a Associação Americana de Psiquiatria, no seu Manual Diagnóstico e
Estatística de Transtornos Mentais, quarta edição (DSM IV), situa as fobias dentre os
Transtornos de Ansiedade.
Etiologia das Fobias
Sabe-se que, na infância, as manifestações clínicas mais frequentes são aquelas relativas aos
medos, fobias (especialmente a animais) e aos “terrores noturnos”. É difícil estabelecer uma
classificação definitiva das fobias, pelo fato de que são muitos os critérios que podem ser
empregados: assim, unicamente para exemplificar, se o referencial etiológico estiver baseado
na fixação da etapa evolutiva, ela também permite várias vertentes etiológicas.
Destarte, a fobia pode ser originária da clássica conflitiva da fase fálica-edípica, com o
respectivo “complexo de castração”, tal como está magistralmente descrito por Freud na fobia
que o menino Hans tinha por cavalos. Entretanto, abundam evidências de que a fobia também
pode estar radicada na fase anal, até mesmo porque essa etapa evolutiva coincide com os
processos de “separação e individuação” da criança, conforme os estudos de M. Mahler e
colaboradores (1975).
Saiba mais sobre as fobias:
Da mesma forma, podemos adotar o ponto de vista da escola kleiniana, que enfatiza o fato de
a fobia resultar da fixação na fase evolutiva do sadismo oral canibalístico, com a respectiva
projeção dos primitivos objetos aterrorizantes sobre o espaço exterior que, então, transformase em fobígeno.
Pelo fato de que não há uma explicação unitária para a formação das fobias, cabe tentar
classificá-las de acordo com a pluralidade causal, segundo a enumeração a seguir:
• Além da angústia de castração, também está sempre presente em qualquer fobia alguma
forma de ansiedade de aniquilamento e, sobretudo, de desamparo.
• Existe uma permanente simbolização e deslocamento da ansiedade, que se constitui como
uma cadeia de significantes. O melhor exemplo da rede de significantes que estabelecem um
significado fóbico consiste em correlacionar como as fobias originais da criança, do medo da
escuridão, da solidão e de estranhos, estão intimamente conectadas com o significado do medo
de perda da mãe, ou do amor dela. Da mesma forma, comportam-se as representações
simbólicas que, transmitidas pela cultura milenar, transformam-se em medos universais
(serpentes, ratos, baratas, escuridão, etc.).
• Praticamente, sempre constatamos que no passado houve uma intensa relação simbiótica
com a mãe, com evidente prejuízo na resolução das etapas da fase evolutiva da separaçãoindividuação. Na prática clínica, é fácil observar a persistência desse vínculo simbiótico com a

Fale com Especialistas
1