A teoria de Freud de que os relacionamentos iniciais podem ser a chave para entender como um adulto se relaciona com os outros ao seu redor foi influente na formação do trabalho de John Bowlby (1907-1990), um dos psicanalistas mais importantes do século XX.
Como Freud, Bowlby acreditava que todos os seres humanos chegam ao mundo com certas predisposições e necessidades. Seu foco estava na necessidade humana de apego, e seu corpo de trabalho nesta área viria a ser conhecido como “teoria do apego”. Bowlby raciocinou que, como os bebês dependem inteiramente de outras pessoas para alimentação e cuidados, eles são naturalmente inclinados a formar laços profundos, conhecidos como apegos, com aqueles que cuidam deles. Normalmente, a primeira pessoa a quem o bebê se apega é a mãe.
Bowlby estava bem posicionado para investigar os efeitos dos relacionamentos e sua ruptura nas vidas dos indivíduos – ele não era apenas um psicanalista qualificado, mas também um médico e trabalhava como psiquiatra.
Bowlby achava que esse impulso de apego estava sempre presente, mas era especialmente forte sempre que uma criança se deparava com uma situação perigosa ou se sentia insegura. O exemplo clássico do dia a dia que ilustra isso é a criança pequena que se agarra à perna dos pais no primeiro dia de aula ou quando participa de um grande evento social com muitas pessoas desconhecidas. Bowlby acreditava que era natural para um indivíduo olhar para os pais como sua principal fonte de proteção nessas condições. A razão pela qual os bebês humanos tendem a sorrir, chorar e engatinhar é simples – esses comportamentos desencadeiam ações de cuidado nos pais de uma criança.
Exatamente como Freud havia dito antes dele, Bowlby achava que um relacionamento harmonioso com a figura materna era importante para o desenvolvimento saudável da criança. No entanto, sua teoria dava muito mais ênfase ao vínculo sentido entre mãe e filho do que aos estágios pelos quais as crianças passam. Bowlby acreditava que as crianças naturalmente tentavam formular um vínculo seguro e forte com a mãe, que serviria a um propósito duplo. Primeiro, esse apego os faz sentir seguros ao enfrentar o perigo em um mundo incerto. Em segundo lugar, esse vínculo inicial serve de modelo para outros relacionamentos importantes ao longo da vida da criança. O primeiro relacionamento baseado no apego de uma criança é um modelo para outras interações e, portanto, se for interrompido ou prejudicial, as chances da criança de formar conexões saudáveis com outras pessoas são severamente prejudicadas.
Se o apego precoce de uma criança a uma figura materna se torna impossível, ou é quebrado – por exemplo, se a mãe morre ou se o bebê está em um orfanato e é passado entre cuidadores sem uma única “base” segura – então isso poderia, de acordo com Bowlby, resulta em uma criança incapaz de expressar suas emoções e se relacionar com outras pessoas. Ele se referiu a esse fenômeno como “privação materna” e afirmou que os primeiros dois anos de vida de um bebê eram cruciais para formar um vínculo saudável e confiável com um cuidador responsivo.
As teorias de Bowlby dividem a comunidade psicanalítica. No nível pessoal, ele apreciava a perspectiva psicanalítica – afinal, ele se formou como psicanalista, e sua supervisora foi a famosa analista Melanie Klein. No entanto, ele colocou uma ênfase firme na experiência vivida por uma criança de um relacionamento, e menos na mente inconsciente. Portanto, embora seu trabalho possa ser identificado como um desdobramento do pensamento psicanalítico, ele também ultrapassa as fronteiras da biologia e até da antropologia.